14 de dezembro de 2011

Logística Reversa = Qualidade de Vida

Estamos cada vez mais cientes sobre a necessidade da preservação do meio ambiente. Nesse processo, a Logística Reversa, cuja competência é o retorno do  produto ao seu ciclo produtivo, ou como insumo para o de outra indústria, está entre as ações fundamentais em prol da sustentabilidade. 

Nesta entrevista, Patrícia Guarnieri, especialista no tema, autora do livro Logística Reversa, em busca do equilíbrio econômico e ambiental traça um breve perfil de como está a sua dinâmica no Brasil. 

Entrevista

Há quanto tempo, mais ou menos, temos a discussão sobre logística reversa no Brasil e como está sua dinâmica?
A logística reversa surgiu na década de 90 nos EUA, mas somente em 2003 com o livro do professor Paulo Roberto Leite, da Mackenzie, é que tivemos mais acesso a informações sobre este tema. Até então só existiam livros publicados em outras línguas, principalmente na inglesa. Hoje, após a sanção e regulamentação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, que tramitou durante 21 anos no Congresso Nacional, que entre outras coisas prevê a obrigatoriedade da logística reversa, o tema tornou-se muito evidente e está em discussão em diversos setores de atuação, incluindo o Poder Público, Cooperativas de Catadores, Empresas Privadas e também ficou mais acessível aos consumidores finais. Um reflexo disso é que hoje existem mais quatro livros publicados na área, em português, de 2010 até agora. 

Logística  Reversa

Quais as ferramentas para perceber a eficácia da logística reversa?
Depende de que aspecto se pretende medir, existem vários indicadores de desempenho que podem ser utilizados. É importante ressaltar que não existe uma regra ou um padrão para que essa avaliação seja feita, cada empresa deve adequar os indicadores de acordo com suas necessidades. Há também como ser feita uma análise financeira e econômica dos valores movimentados pela logística reversa, o que é realizado através da contabilidade ambiental e análise das demonstrações contábeis.

Como funcionaria ou funciona na prática a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e a logística reversa para cidadãos - pessoas físicas?
A PNRS estabelece a obrigatoriedade da logística reversa de alguns tipos de resíduos, como: pilhas, baterias, Lâmpadas, embalagens de agrotóxicos, óleo lubrificante e embalagens, eletroeletrônicos e também embalagens diversas. Além disso, estabelece que até 2014 haja o fim dos lixões e a implementação efetiva da coleta seletiva, que ocorrerá com o apoio de cooperativa de catadores. Desta forma, os cidadãos deverão separar o lixo seco do úmido, para possibilitar sua revalorização e, deverão descartar os resíduos citados na Lei de forma adequada nos canais reversos que serão implementados pelas empresas e também pelo Poder Público. Cabe ressaltar que quem descartar os resíduos inadequadamente será multado, pois a lei estabelece a responsabilidade compartilhada na gestão de resíduos, o que significa que nós consumidores também somos responsáveis pelo descarte correto. A multa para os cidadãos que descumprirem a lei pode variar de R$50 a R$500.

Você acha que a logística reversa já está se tornando uma prioridade no planejamento das empresas privadas e também do Poder Público? Por quê?
Sim, com certeza! Muitas empresas mesmo antes da sanção da PNRS já estavam preocupadas com o descarte correto de seus resíduos. Isso se deve em parte a algumas legislações já existentes como é o caso da Lei de Crimes Ambientais e também resoluções do CONAMA e ANVISA. Mas em parte também se deve à percepção das empresas de que hoje os consumidores preferem produtos e serviços de empresas que sejam “ambientalmente responsáveis” e, com o propósito de reter este tipo de cliente, buscam ser mais sustentáveis.  Além disso, sempre houve a necessidade de limpar o canal logístico, ou seja, “se livrar” dos resíduos gerados. E considerando que estes não podem simplesmente ser descartados em qualquer lugar, gerou-se a necessidade de se criar alternativas para o problema dos resíduos. O Poder Público por sua vez, sendo o responsável direto pela Limpeza Pública também se preocupa em realizar a coleta e descarte dos resíduos para possibilitar melhor qualidade de vida à população. Porém, devo ressaltar que após a sanção da PNRS esta questão ganhou muita evidência, tendo em vista que um dos principais motivos para a logística reversa ser implementada ainda é o atendimento à legislação.

Por que resolveu escrever um livro sobre esse assunto?
Sou pesquisadora nesta área já há seis anos, e como tenho alguns artigos publicados sobre o assunto em congressos e periódicos, muitas pessoas me enviam e-mails solicitando materiais. Sendo assim, resolvi criar em 2009 o blog “Logística Reversa e Sustentabilidade” para agregar em um só lugar, dicas de livros, materiais para baixar gratuitamente, dicas de links úteis, legislação e notícias sobre o tema. Então, os participantes do blog começaram a me sugerir e também “cobrar” (risos) que eu escrevesse um livro sobre o assunto. Desta forma, devido à carência de livros publicados na língua portuguesa e à necessidade de materiais que abordem o tema Logística Reversa e os impactos da PNRS, resolvi escrever o livro "Logística Reversa: em busca do equilíbrio econômico e ambiental", o qual foi publicado em junho/2011 pela Editora Clube de Autores.  Procurei abordar no livro algumas das principais dúvidas que respondia no blog sobre a logística reversa, suas principais vantagens e dificuldades; os impactos da Política Nacional de Resíduos Sólidos para os atores envolvidos no processo de geração de resíduos; o planejamento e mensuração da logística reversa e; também sobre alguns detalhes de processos de logística reversa dos resíduos eletroeletrônicos, dentre eles: eletrodomésticos, eletrônicos, pilhas e baterias e lâmpadas. 
Logística Reversa

Como foi seu processo e elaboração?
Bom, como eu disse já pesquiso o tema há seis anos, por isso já havia lido muitos livros e artigos a respeito, inclusive na língua inglesa. Além disso, procurei informações atualizadas em relatórios de órgãos ambientais e das associações responsáveis pelos diversos tipos de resíduos (MMA, CEMPRE, ABRELPE, ABIQUIM, ABEAÇO, ABRALATAS, ABIPET, INPEV, RECICLANIP, FEAM, UNEP, ETC). Busquei relatórios publicados sobre resíduos em âmbito nacional e internacional, fiz um levantamento da legislação existente, busquei exemplos de casos de sucesso e também me baseei nos meus artigos já publicados. Necessitei de aproximadamente um ano para organizar e compilar estas informações todas no livro, mas o processo de levantamento de informações foi muito mais longo.

Logística Reversa

Para qual público o livro é dirigido e quais são as atividades resultantes de sua leitura?
O livro é dirigido a estudantes de graduação e pós-graduação de diversos cursos como: Administração, Contabilidade, Economia, Engenharia de Produção, Engenharia Ambiental, Engenharia Civil, Gestão Ambiental, Gestão Logística, Ciências Biológicas e também de outras áreas; além é claro, de se dirigir à profissionais e demais interessados no tema.  
Os resultados advindos da leitura, tem auxiliado na elaboração de trabalhos de conclusão de curso (TCCs, monografias, dissertações, teses, relatórios de estágio) e artigos, além de eu já ter tido o feedback de profissionais que estão implementando processos de logística reversa baseados em parte no meu livro. 
E ainda outros que estão analisando a viabilidade de implementação de negócios nesta área com o auxílio do livro, o qual possui um capítulo que trata do planejamento e acompanhamento financeiro e econômico. Também existem aqueles que procuram o livro somente para conhecer mais sobre o tema, sem pretensões de aplicá-lo.
Logística Reversa

Você ministra palestras a respeito do conteúdo do livro? Poderia comentar um pouco?
Já ministrei algumas palestras sobre o tema em universidades como UEPG – Universidade Estadual de Ponta Grossa-PR; UNESP de Presidente Prudente-SP, CESCAGE de Ponta Grossa, Instituto Brasileiro de Gestão e Marketing de Recife e também no International Quality and Productivity Center em São Paulo. Normalmente o público das palestras se concentra em estudantes e também profissionais de empresas de médio e grande porte.  Os assuntos abordados são basicamente os mesmos do livro e tenho a satisfação de perceber que após minhas palestras, há um despertar do interesse sobre o tema e também aumento da conscientização do público, os quais questionam bastante sobre quais atitudes necessitam para contribuir com o processo. É muito bom ter contato com este público e tratar deste tema, pelo qual sou verdadeiramente fascinada.


Patrícia Guarnieri é professora e pesquisadora da UnB- Universidade de Brasília; doutora em Engenharia de Produção pela UFPE; mestre em Engenharia da Produção, com ênfase em Gestão Industrial pela UTFPR; especialista em Gestão Empresarial pela Univel/Inbrape e em Docência no Ensino Superior pela Unipan e graduada em Ciências Contábeis pela Unioste.


Os créditos das fotos são da entrevistada.